segunda-feira, 17 de setembro de 2012



Mais uma vez, encontro-me sobre o assoalho encardido, encolhendo-me enquanto, um a um, os fantasmas retomam seus lugares entre a velha mobília. Caminham com seus pés pesados sobre meu quadril e pernas, ecoam seus gritos pela penumbra, arranham com suas unhas imundas meus braços, tornozelos e mãos. Dissipam-se pelos móveis, escondendo-se e reaparecendo com um fluxo inconstante.
E, de repente, é como se jamais tivessem desaparecido. De repente torno-me outra vez apenas rastros de guerra, apenas mais um corpo entre tantos outros corpos no campo de batalha. Suas vozes agudas ecoam por cada fresta, seus olhares queimam cada palmo de pele, seus pesos comprimem-se contra o meu, abafando-me, assombrando-me.
Apenas uma pilha de ossos sob os livros que caem da estante. Apenas um reflexo distorcido no espelho.  Apenas uma borboleta presa em um vidro de conserva esperando que suas 24 horas não acabem antes que tenha a chance de escapar.
Seus risos dançam pelo ar pesado, suas respirações frias beijam minha nuca úmida, suas mãos ásperas sobem por minhas coxas, recuperando, parte a parte, as partes de mim que um dia pensei ter.

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