terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Atirei o peso de minhas costas contra a parede de madeira, deixando que o cheiro de cupim e mofo penetrasse nos cachos úmidos de meus cabelos. Senti as luzes natalinas, que talvez brilhassem há dez anos atrás, emaranharem-se na lã grossa de meu suéter preferido.
Suspirei quando o cômodo foi tomado pela luz fraca dos faróis de algum caminhão que passava lento pelas ruas molhadas, levando sua claridade e ranger do motor embora na primeira esquina, deixando apenas o arder calmo de meus olhos. Suspirei por já ter passado.
Lamentei pelo momento perdido, pelo tempo presente que agora se tornava passado. Lamentei pelos amantes que se enroscavam pelas calçadas, dividindo copos térmicos de café e chocolate quente. Lamentei pelas crianças que adormeciam apoiadas no peitoral das janelas a espera do bom velhinho trajando vermelho. Lamentei pelos biscoitos queimados, pelos farelos nos pratos, pelas crianças sem espera. Lamentei por minha própria espera.
Antes que a espera não passasse de embrulhos e laços de fita sob a árvore enfeitada, antes fossem doces nas meias acima da lareira apagada. Antes eu soubesse pelo que espero.

Nenhum comentário:

Postar um comentário