domingo, 12 de dezembro de 2010

Caminhava apressado pela estrada vazia e ensolarada, os cadarços desamarrados, os cabelos mal cortados, os olhos inchados e as unhas roídas. Pisava na barra da calça jeans, sorrindo torto para os raios de sol que corriam de encontro com seu rosto muito pálido, cantava ofegante.
Caminhava calma, os cabelos loiros sendo jogados contra seu rosto bronzeado, as botas sujas de lama, os lábios grotescamente pintados de escarlate, as unhas compridas e negras. Tragava impaciente seu cigarro matinal, cantando em pensamento a canção que costumavam, a pouco tempo, escutar em sua caminhonete vermelha.

"Yes and how many times must a man look up,
Before he can see the sky?
Yes and how many ears must one man have,
Before he can hear people cry?
Yes and how many deaths will it take till he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowin' in the wind
The answer is blowin' in the wind"
 
Não havia romance na melodia, tampouco na letra da canção, mas os anos fizeram daquela a música deles. E ali, caminhando pela rua movimentada de alguma cidade grande, podia vê-lo estacionar a caminhonete vermelha na beira de alguma estrada para lugar algum, desligar o rádio e rir seu riso caipira, vestindo o chapéu de couro marrom, descendo e batendo a porta com força. Podia vê-lo abrir caminho pelas plantações que levavam para o chalé de madeira onde passaria a noite esperando por ela e ela jamais apareceria. 

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