sexta-feira, 10 de julho de 2009

Delaney,

Caminhando sozinho pela rua, olhando para todas as direções, todos os caminhos.Viu passar uma mulher, alta, pálida, cabelos azuis,se não estivesse tão estressado teria parado pra apreciar com atenção o tom de azul, era escuro, mas ele não percebeu.
Viu passar um homem apressado, irritado que conversava sozinho sobre algo não muito agradável, riu, riu da bobagem ouvida, riu enquanto chorava. Buscou algum banco, algum apoio, tirou a mochila das costas, pegou o celular e meteu os fones no ouvido, não queria mais rir.
E foi chorando pela rua, enquanto o sol se despedia e a lua aos poucos ia aparecendo, todos olhavam assustados para aquele sujeito de olhos inchados, expressão quase gritante.
Todos se perguntavam o porquê de um homem chorar tanto, alguns paravam e pensavam em perguntar o motivo, outros apenas pensavam em confortá-lo de alguma forma, um abraço quem sabe, mas nada foi feito.
E a cada passo ele se afastava mais e mais da multidão, andava cada vez mais rápido, corria. O vento frio em seu rosto, o toque dos sapatos na neve, o cheiro único do inverno, o deixavam mais alarmado.
Jogou-se no chão, não se preocupando com o frio, com a neve molhando o casaco, com as poucas pessoas o encarando, se jogou, deitou e começou a abrir uma pequena carta que havia apertado durante todo caminho, desde que saiu do velório. Velório de Delaney, sua ex-mulher.
Ele se perguntava o porquê, o porquê de não ter vivido mais com ela, o porquê de ter gritado com ela todas aquelas vezes, o porquê de não ter dito para ela o quanto a amava, o quanto ela significava. Perguntava-se, e se culpava, por não ter dado a ela a vida perfeita, por ter a feito chorar tantas noites, por não ter tido coragem de pedir desculpas, de dizer o quanto precisava dela, o quanto precisava dela todos os dias da vida dele.
Ele sentia uma vontade doentia de contar a ela que sentia saudade todas as vezes que olhava o álbum de casamento deles, e que deixava a foto dela na cabeceira, e nunca, nunca iria tirá-la de lá. Mas ele não poderia contar nem se desculpar, nem fazer nada que pudesse fazer tudo voltar atrás, porque Delaney agora seria apenas uma memória, uma memória que voltaria sempre e sempre, o fazendo sentir culpado, sentir doente, sentir saudades.

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