segunda-feira, 2 de julho de 2012

Gostaria de ser aquela foto amassada e rasgada que você carrega em sua carteira, entre sua identidade e os passes de ônibus. Gostaria de ser aqueles rabiscos na última página de seu livro favorito, aquelas cartas que você escreve e esconde no fundo da gaveta. Gostaria de ser aquela voz rouca de seus discos empoeirados, aquela melodia antiga que você não toca mais. Gostaria de ser uma de suas cicatrizes, uma das tantas manchas no carpete do seu quarto.
Gostaria de ser o nome talhado na árvore do seu jardim, a ferrugem nas correntes do balanço. Gostaria de ser os respingos de tinta no papel de parede da cozinha, a marca de copos em sua escrivaninha, o pesadelo que te sufoca desde a infância. Apenas para fingir alguma estabilidade, apenas para sentir que os anos passam e que eu não mudo.

Um comentário:

  1. Intenso!Creio que todos nós queríamos ser algo, mesmo que insignificante, mas que fizesse parte da vida de alguém que idealizamos, esperamos.

    Abraços

    wwwanjoclandestino.blogspot.com

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