sexta-feira, 13 de abril de 2012


Deixei a biblioteca as pressas, enfiando os livros e anotações por debaixo da blusa, jogando a jaqueta por sobre a cabeça, e lamentando por não ter trazido um guarda-chuva. Encolhi-me o máximo que pude, guiando-me pelas calçadas ensopadas e vazias.
Por mais que a chuva estivesse ficando mais intensa, e as ruas a cada instante mais desertas, não queria voltar para casa. Ao menos não para a minha casa. Queria voltar para a ela, para seus cachos ruivos e macios, para suas sardas e covinhas, para seu hálito de cereja e seus livros em russo.
Fazia meses que eu não pensava nela, e, em alguns dias posso jurar tê-la esquecido por completo. Mas hoje, enquanto apertava as folhas úmidas contra o peito, enquanto lamentava por ter me perdido, não consegui pensar em mais nada, em mais ninguém. Queria apenas ter seus leves dedos entre minhas mãos, ter suas marcas de batom por meu pescoço, ter seu riso me invadindo, ter seu aroma preso as minhas roupas, seu gosto impregnado em minha boca, seus passos ao lado dos meus.
Caminhei por mais algumas quadras, deixando a jaqueta cair sobre meus ombros. Não me interessava que horas eram, não me interessava que minhas roupas estavam encharcadas, que meus livros e fragmentos estavam se desfazendo por sob minha camisa. Eu só precisava encontrá-la, só precisava forçá-la a aparecer.
E, quando estava prestes a dar meia volta e tentar descobrir o caminho de volta pra casa, lá estava ela. Intacta, perfeita, girando no meio do cruzamento. Seu rosto estava voltado para cima, seus braços estavam abertos, e, por seus olhos verdes, suas sardas, seus cílios volumosos, sua boca macia, estampava-se um sorriso travesso. Vestia sua camisola de seda marfim, e seus cachos estavam presos por um laço de fita vermelha.
Lá estava ela, minha única e eterna Konstantine. Lá estava ela, depois de todo esse tempo, depois de todas essas idas e vindas, depois de todas essas despedidas, depois de toda essa falta de abraços, de beijos, de adeus. Lá estava ela, enfraquecendo meus joelhos, alterando minha respiração, causando tremores e arrepios por todo meu corpo. Lá estava ela, linda, viva, sem mim.

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