sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Empurrou a pesada porta de vidro do menor café da cidade, despindo o casaco de lã grossa, as luvas, a touca e os cachecóis. Seus lábios tremiam, seus joelhos magros se encontravam em um bater constante, seus olhos ardiam e seu rosto tornara-se um vulto vermelho rosado. Era sua primeira semana de inverno, e seu corpo todo parecia implorar para que passasse o mais rápido possível.
 Trazia no bolso da calça jeans cartas há muito começadas, cartas que informavam sobre sua localização, sobre suas últimas fotografias e atividades, sobre suas saudades e vazios. Trazia entre as folhas amareladas, cédulas amassadas de diferentes países, documentos despedaçados e selos postais.
Esvaziou os bolsos, dispondo as cartas pela mesa redonda de vidro engordurado. Sentou, analisando uma a uma as cartas, colocando-as em ordem cronológica. Eram tudo o restara dela, tudo o que sobrara de tempos piores. Eram tudo o que restara daqueles hotéis baratos, daquela ausência de bagagem, daquela pressa por nada. Eram tudo o que sobrara de seus piores demônios, de seus maiores temores, de sua imagem distorcida e seu peito em chamas.
Amontoou as folhas em uma pequena pilha, escondendo-as na cadeira a sua esquerda.  Levantou suas mãos ainda frias para chamar a garçonete.
- Um café açucarado, uma fatia grossa de torta e o disco mais alegre em seu toca disco. Faça-me sorrir hoje, por favor!

Um comentário:

  1. Eu, eu, eu... Eu não sei o que comentar. Só vim aqui dizer que tu deverias escrever mais. Eu gosto tanto, tanto de te ler.

    ResponderExcluir