terça-feira, 21 de junho de 2011

Fui acordado pelo som estridente do telefone. Estiquei meus braços para fora das cobertas, deixando que a realidade fria encontrasse com minha pele ainda morna. Apalpei o criado-mudo, buscando entre maços vazios, cinzeiros cheios, xícaras de café pela metade e livros abertos, o telefone que gritava em meus ouvidos.
Apertei o aparelho gelado em minhas mãos, trazendo-o para debaixo das cobertas.
- Bom... - suspirei - dia.
- Espero que não tenha acordado você. - disse com sua voz melosa.
- Não... não acordou. Eu... bem, eu... só estava lendo... um pouco. Sabe... profundamente.
Ela riu, e imagino que tenha jogado a cabeça para trás, passando os dedos curtos pelos cabelos castanhos.
- Apenas... cochilando. - Bocejei.
- Posso sentir. - disse entre uma gargalhada e outra.
Levantei-me, sentando na borda da cama e esticando-me para alcançar os cigarros. Levei um aos lábios e acendi. Ela percebeu.
- Hollywood? O aroma me faz lembrar de seus lábios. -comentou. - Pensar no próprio aroma me faz lembrar, na verdade.
- Já pensou em... pensar nos lábios... em si? - Perguntei indiferente. - Eu... não preciso de nada. – Soltei - para lembrar do gosto dos seus.
Escutei o entreabrir de seus delicados lábios avermelhados, e, embora pareça loucura, sinto ter ouvido o fluxo de sangue se concentrando em suas maças do rosto. Ficou em silêncio, respirando suavemente do outro lado.

Um comentário: