domingo, 22 de maio de 2011

O pesado jato de água fria escorria por seus cabelos ruivos, por seus lábios rosados, por seu pescoço pálido, por seus seios macios, por suas coxas magras. Suas costas latejavam, e seu corpo ainda trazia um pouco do calor tépido das peles que nele tocaram.
Seus joelhos latejavam com o frio, seu estômago queimava com a fome, seus olhos esboçavam a dor de todo seu corpo, de toda sua alma. Queria fugir, fugir de tudo que era, de tudo que se tornou. Queria fazer as malas, comprar uma passagem pra lugar algum, fugir e não deixar pista alguma. Queria ter coragem para recomeçar, para não continuar a cometer os mesmos erros que pouco a pouco mataram sua mãe.
Deixou que seus joelhos fracos tocassem o piso encardido, juntando as mãos em frente ao rosto molhado. Rezou, rezou enquanto a água escorria sobre sua pele, enquanto os charutos e doses de uísque eram servidos no andar de baixo, enquanto as outras garotas vestiam suas roupas cheias de plumas, seus sapatos de salto alto, suas jóias falsas.
Rezou até que as mãos que batiam na porta perdessem a paciência, até que unhas imundas apertassem a pele macia de seu braço, até que vozes grossas gritassem seu nome, braços agitassem seu corpo, dedos deixassem marcas em seu rosto.
Continuou a rezar quando seu corpo foi jogado contra a cama, quando todas as luzes foram apagadas, quando trancaram a porta de seu quarto.
Tentava ao máximo continuar com as preces, lutando contra o sono. Queria acreditar naquilo, queria acreditar em algo, queria sair dali. Queria ser salva, queria ter alguém para quem pedir socorro. Mas não havia nada, não havia ninguém para escutá-la. Suas preces foram ficando mais baixas, seus olhos aos poucos foram fechando, sua luta lentamente foi terminando.

“I ain't gonna make the same mistakes that put my mama in her grave
I don't wanna be alone.”

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