Sentada sobre a bancada da cozinha, balançando meus pés docemente, fecho os olhos e acendo um cigarro. Ouço seus passos em minha direção, percebo seus lábios tocando minha pele seca, suas mãos pequenas apertando meus joelhos, seus fios de cabelo finos e negros dançando em meu rosto, seus dedos roubando-me o cigarro. E não consigo sentir nada.
Sua boca úmida aproxima-se de minha orelha gélida, sussurrando melosamente sobre seu dia, sobre o quanto está cansada, sobre sua tarde no escritório, sobre o sonho que teve noite passada. E tudo o que consigo pensar é que passei o dia vazia, vagando pelas ruas estreitas, imaginando filmes a cada esquina, imaginando que mais uma vez veria seus olhos procurarem algo dentro de mim, algo que não existe, algo que nunca existiu.
Apoio as mãos na bancada, salto para o chão e abro meus olhos. Estendo os braços, segurando seus ombros com força.
- Querida, eu queria tanto... Tanto amar alguém.