segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Não faço idéia de quando tudo isso voltou a acontecer, tudo o que sei é que agora me vejo frequentemente encolhida contra a parede branca de minha casa no interior de São Paulo. Tenho sete anos, não mais do que isso. Não sei exatamente o que fiz, não sei por que sinto tanta culpa, não sei ao menos quem sou, estou apenas encolhida sobre o carpete sem cor, fitando os finos raios de luz que passam pelas frestas da porta.
Estico meus pequenos braços e alcanço o urso de pelúcia, o apertando ferozmente contra meu peito dolorido.
- E... E eu só queria que me levasse embora. Eu só queria não acordar amanhã. - e as lágrimas corriam mornas por meu rosto curto e rosado - Eu só queria deixar todos viverem em paz, deixar que fossem felizes, que eles tivessem a chance de viver sem mim... Sem meu peso - Fungo, passando a manga de meu moletom pelas  narinas avermelhadas - Eu só queria morrer, por que não posso? Por que você não me ajuda, Deus? Por que você não faz o que eu peço? Se... se você existe de verdade... - Respiro, exausta. - me deixa morrer, me deixa deixar minha irmã e meus pais contentes.
E eu gritei tanto. Eu pedi tanto. Eu fui dormir tantas vezes esperando que a manhã seguinte nunca chegasse. E eu abracei meus pais tantas vezes imaginando que seria a última. E eu pedi tanto pra não precisar ir embora, para acordar sendo uma boa menina, para ser boa para eles, ser boa para mim. E eu quis tantas vezes pedir desculpas, e eu quis dizer que a culpa não era minha, que eu não sabia o que me tornava aquilo que eu era, aquilo que ainda sou.
E agora, nove anos depois, estou ajoelhada no chão de meu quarto, a cidade é outra, mas a dor é a mesma. À espera pela manhã que não vêm, pela coragem de afundar mais a navalha sobre a pele, a coragem de deixar de ser um transtorno, de deixar de pesar, de deixar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário