sábado, 1 de janeiro de 2011


Seu rosto brilhava azulado sob a luz do rádio de sua caminhonete velha, e seus olhos, poços fundos da mais pura ilusão, trajavam seu melho tom. Konstantine estava cansada e, a estrada vazia, as cores nebulosas, os sons noturnos, pareciam entediá-la ainda mais.
O corpo imóvel ao seu lado guiando o enorme volante, causava nela uma espécie de fúria calma - daquelas que resultam em assassinatos ritmados seguidos de um deleite completo do corpo ensangüentado. Mas nela, naquele momento, não resultaria em nada se não no desconforto de senti-la.
Entediada prendia os olhos aos insetos debatendo-se no brilho dos faróis e lembrava do começo de tudo isso. Acendia um cigarro, aumentava o volume do rádio, sorria para os olhos verdes a fitando. Virava o rosto para a janela aberta, fechava os olhos e voltava para o verão passado.
Ele vestia uma regata branca manchada de graxa embutida em sua calça jeans, calçava botas de montaria imundas de lama e trazia na cintura uma enorme fivela de ouro com seu nome gravado ao centro. Johnny.
Ela, como sempre, parecia algo, e dessa vez parecia perdida. Vestia a saia azul e a camisa branca de seu uniforme. Trazia entre os seios um medalhão antigo, embaçado. Nas unhas trazia restos de esmalte, nos olhos restos de rímel, nos lábios e dentes restos de batom vermelho, e nas maças do rosto o excesso de blush. Era pequena, magra, frágil, intensa.
Ele a observou amarrando os cadarços e calmamente aproximou-se. Não pretendia dizer nada, apenas gostaria de senti-la respirando ao seu lado, guardar seu aroma e lembrar dele antes de adormecer.
Ela levantou os olhos enquanto ele aproximava-se, fitou seus olhos verdes, e disse:
-Sabe onde fica o banheiro?
- Am... Não sei ao certo se sei, mas posso tentar encontrar.
Sorriu e puxou seu braço.
- Tentaremos juntos então.

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