segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Sentei-me sobre os travesseiros, analisando a penumbra aconchegante do quarto de hotel. Impessoal. Vago. Podia imaginar com perfeição o pequeno "483" moldado em ouro no alto da porta.
Da sala agregada ao quarto vinha uma melodia baixa e melosa dançando no ar abafado, e do frigobar, ao canto, escapavam finos feixes de luz. Levantei-me sobre os cobertores, puxando as cortinas vermelhas e deixando que o sol invadisse o cômodo com sua claridade morna.
Saltei da cama,  tocando o carpete esverdeado que cobria toda extensão do aposento, fechei meus olhos e deixei que a melodia lenta, que a luz da manhã, que a luminosidade fria do frigobar, que o quarto de hotel, que a fibra do carpete tocando meus pés, que o aroma dele exalando dos lençóis, guiasse minha marcha para lugar algum.
Senti seus braços emaranharem-se em minha cintura, seus pés conduzirem meus passos, seu hálito invadir minhas narinas, seus cabelos tocarem minhas têmporas.
Senti seu sorriso iluminar o cômodo, seus olhos refletirem meu rosto, seus dedos alisarem meu pescoço.
Senti sua língua calar meu silêncio, sua pele macia dançar sob meus lábios.
Senti o vento úmido da sacada, o chão áspero de pedras, o metal frio da grade que agora nos separava.
Senti o tecido de minha camisola de algodão balançar em minhas coxas, suas mãos puxarem minhas mãos, meus dedos deslizando lentamente de seus dedos, meus corpo girando melodicamente de encontro à calçada suja da avenida  mais movimentada.

Um comentário:

  1. belíssimas linhas, recheadas de frisson erótico e mistérios esfumaçados.

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