domingo, 28 de novembro de 2010

CONFESSIONAL
Mário Quintana

 Eu fui um menino por trás de uma vidraça
_ um menino de aquário.
Via o mundo passar como numa tela
cinematográfica, mas que repetia sempre as
mesmas cenas, as mesmas personagens.
Tudo tão chato que o desenrolar da rua
acabava me parecendo apenas em preto e
branco, como nos filmes daquele tempo.
O colorido todo se refugiava, então, nas
ilustrações dos meus livros de histórias, com
seus reis hieráticos e belos como o das cartas
de jogar.

E suas filhas nas torres altas _ inacessíveis
princesas. Com seus cavalos _ uns
verdadeiros príncipes na elegância e na
riqueza dos jaezes.
Seus bravos pajens (eu queria ser um deles...)
Porém, sobrevivi...

E aqui, do lado de fora, neste mundo em que

vivo, como tudo é diferente! Tudo, ó menino
do aquário, é muito diferente do teu sonho...
( Só os cavalos conservam a natural nobreza.)

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