quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Vestindo sua camisola de seda vermelha, Konstantine flutuava pelos degraus da escada empoeirada, desenhando com seus passos, suaves pegadas na madeira apodrecida,  e soltando no ar de mofo o som estridente das rangidas da frágil estrutura pela qual ela, minha pequena, desfilava.
A esperava impaciente, ao pé da escada, apoiando meu peso no corrimão frouxo, e a fitando com meus olhos lentos que dela só tinham essa imagem meio embaçada, como se usasse óculos grossos, ou como se um fluxo de intermináveis lágrimas fizesse de minha visão turva.
Queria tê-la em meus braços outra vez, tê-la umedecendo minhas maças do rosto, bagunçando minha cama recém feita, mordiscando os biscoitos de cima da mesa, roendo a tampa de minhas canetas, correndo, encharcada e nua, da banheira no andar de cima até o telefone no andar de baixo, pintando retratos de dias que nunca vivemos, quadros de lugares que nunca existiram em outro lugar se não dentro dela.
Mas tudo que meus olhos viam, era essa sombra vermelha de minha, eternamente minha, Konstantine, descendo as escadas sem nunca chegar ao primeiro degrau, sem nunca tocar em minha mão estendida, sem nunca beijar meus lábios, sem nunca me ver.

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