quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Eram seis horas, e, como sempre, levantei com aquela pressa lenta de quem sabe que deve levantar, mas ainda assim adia o movimento. Joguei o braço direito, pálido e revestido de finos cortes que ao serem vistos assim, na penumbra, pareciam ter doído menos ao serem feitos do que doeram na noite anterior. Procurei, com os dedos ainda mortos e gelados pela névoa fria de meu quarto, o despertador que anunciava, incessante, o início de mais uma manhã.
Em um movimento rápido fiz com que o despertador caísse ao chão, tremendo pela madeira lisa. Sussurrei alguns palavrões, voltei o braço para debaixo dos cobertores mornos e espreguicei-me pelos lençóis. E, assim de repente, subitamente, absolutamente do nada, sem uma razão aparente, minha mente foi tomada por um pensamento doce, daqueles que de tão doces que são tornam-se amargos ao fim.
E se ela estivesse aqui? E se seus beijos encontrassem com minha pele fresca? E seus dedos desfilassem por minha espinha? E se seus cabelos, desarrumados e de um negro perfeito, cobrissem meu travesseiro, e surgissem, esvoaçastes, próximos ao ar que respiro? E se eu respirasse, nesse ar de seus cabelos, seu aroma matinal? E se seus olhos, castanhos e fundos, encontrassem meus olhos que tudo reflete? E se nos perdêssemos dentro dos olhos uma da outra?
Adiei a pressa, ignorei o despertador que ainda vibrava no piso, e perdi-me dentro desse meu vazio. E se ela, e se ela estivesse aqui esta manhã? Apenas durante o começo da manhã. Apenas para me mostrar alguma razão para levantar de minha cama quente e suportar o mês inteiro com a pressa de quem ama. E se a voz cantante dela encontrasse minha orelha gélida e suspirasse pequenas palavras, declamasse pequenos versos e me fizesse perder-me em pequenos orgasmos? E se eu a tivesse ao alcance dos dedos? O que seria de mim? O que seria dela?

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