terça-feira, 31 de agosto de 2010

Cabelos oleosos, de um tom sem graça, presos por uma fita de seda rosa, deixando com que apenas algumas mechas fujam do nó fraco e escondam as maças de seu rosto. Sentia-se leve, não como se houvesse se livrado do peso que trazia nas costas, mas como se o peso, antes insuportável e crônico, sequer houvesse existido.
Não se importava com todos os sons urbanos que corriam das calçadas estreitas e ruas agitadas, em direção ao seu quarto claro e quente, e que invadiam e atrapalhavam suas composições mentais de sons e vozes únicas e macias. Não se importava com os idosos do fim da rua, fofocando e repassando meias verdades, tampouco se importava com as senhoras de cabelos que passavam a cintura, saias para baixo do joelho e línguas estonteantemente grandes.
Nada que fizessem ou falassem faria diferença agora, pois nada lhe doía, nada poderia ferir ou modificar sua realidade forjada. Era indiferente a tudo quando seus dedos ossudos e longos encontravam as teclas firmes da máquina, e formavam com amor e deleite frases desconexas e rápidas.

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