segunda-feira, 31 de maio de 2010

Apoiei o cotovelo do braço direito sobre a tampa, que um dia veio a ser branca, da privada de um banheiro antigo que fedia a mofo, suor e sexo sem amor. Observei o pequeno cubículo, sempre odiei a falta de espaço nos banheiros públicos, a falta de privacidade. Qualquer um poderia ver minhas calças e roupas íntimas abaixadas.
Arrastei o olhar pelo chão, procurando minha mochila. Revirei o bolso menor usando apenas a mão esquerda, segurei a escova de dente com frieza e pavor.
Não era a primeira vez que eu faria isso, muito menos a última. Cerrei os olhos e abri lentamente a boca, aproximando o cabo encardido para meus lábios. Eu sabia o quão doloroso, o quão sufocante seria aquilo tudo. Eu já estava me acostumando, embora o costume não fizesse da dor menor e da sensação de culpa menos doentia. Em um golpe rápido, relutante, cravei o fino cabo na garganta, pressionando-o até que a tosse cessasse, e até que as coisas continuassem como o de costume. Ácidas e fedorentas. Nojentas.
As lágrimas começaram a escorrer por minhas bochechas, talvez pelo desconforto, talvez pela raiva de depender daquilo. Não queria mais suportar aquilo, nem deixar que isso continuasse a ser um hábito. Eu só queria saber que eu poderia lutar contra, contra mim mesma. Contra a imagem que criei dentro de mim, eu só queria sentir que existem pessoas que se importam, e não só saber disso. Eu gostaria de sentir amor correspondido invadir minhas entranhas, sufocar meus medos, queimar minhas incertezas, e colar meus pedaços.
Encolhi-me ao pressionar a escova de dente novamente, e então senti uma macia mão tocar minha testa, escorregar por meu rosto, secando minhas bochechas e voltando para minha testa e então para meus cabelos, os segurando. O outro braço tocou minha cintura, a apertando em um braço, tentando me puxar para longe de onde eu estava. Deixei-me ser puxada, sem olhar quem o fazia. Virei meu rosto calmamente, procurando as imperfeições e falsidades no rosto de quem procurava me acalmar. Talvez fosse um estranho que me ouviu e resolveu fazer de conta que se importava. Respirei fundo, necessitando do dobro de ar para meus pulmões. Ele sempre disse que estaria ao meu lado, e era só eu procurar. Eu sempre procurei, e nunca encontrei. E quando eu desisti, e quando eu concluí que a solidão estaria comigo, sempre, ele apareceu. Seus finos braços ainda me envolviam, e seus olhos ainda me fitavam com amor e algo mais.
Abraçou-me forte, arrastando os braços pelo chão, procurando minha mochila. Retirou a outra escova de dente e uma pasta, alcançou-me rapidamente e sussurrou “Agora eu vou cuidar de você e você nunca, nunca mais, vai precisar fazer isso!” E então eu senti o que eu procurava, sentir e não saber. Eu senti o algo mais nos olhos dele. Ele se preocupava comigo, ele queria me ver bem, ele queria fazer das coisas fáceis e melhores. Ele não me levaria para uma psicóloga, não me doparia, não me daria broncas, nem tentaria me convencer de que o que eu vejo no espelho está errado. Ele me provaria que tudo aquilo que eu pensava sobre mim não era o mesmo que ele pensava e via. Ele não me forçaria a aceitar a opinião dele, ele me provaria que a opinião dele era a certa. E eu não precisaria lutar contra mim. Agarrei-me aos braços dele, escorregando meus braços cansados sobre as costas, e sorrindo levantei.
Ele estaria comigo sempre, era só eu precisar. Ele estaria comigo sempre, mesmo que na minha imaginação.

3 comentários:

  1. você sabe que eu acho sua escrita e sua imaginação perfeitos , não ?

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  2. Que frio na espinha ler isso, que pavor que ansia pra que o final chegasse pra eu correr pra Bento. Pq juro, May, dark, como preferir. Eu ainda to respirando frio e com aquela ruga reta na testa. Enfim, juro, que se o final fosse diferente, se não tivesse essa esperança no fim, eu estaria dando um jeito de pegar a moto e informações de como chegar na cidade...
    Eu sei que não sou eu, um guri que apareceu do nada que vai trazer qualque confiança, mas, sei la o que tu fez que me deixou assim, querendo te conhecer oO desde mais tempo já...
    Enfim, eu tinha que dizer eventualmente isso, que eu morro de preocupação contigo, não entendo mas morro, e se um dia precisar conversar e não tiver ninguem, é só chamar.. no mais, vou continuar acompanhando blog e flog...
    [e nao vou me sentir um bobo em ter escrito isso, seja sendo ignorado, seja sendo zombado...]
    nao sei terminar esse coment, então vou apenas terminar.

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