sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Deitada sob a luz fraca e alaranjada vinda da vidraça, seu corpo estreito e pálido encolhia-se entre as cobertas manchadas. Seus dedos gélidos roçavam por seus tornozelos e pulsos ásperos, sentindo, uma a uma, as marcas daquilo que um dia fora, os traços de quem o dia desejara ser.
Esperava - embora temendo - que alguém a visse, que alguém ouvisse, que alguém viesse, que alguém sentisse, que alguém soubesse, que alguém fizesse algo. Por que ninguém fazia nada? Por que ninguém a salvava?
Não procurava por médicos, por drogas, por pena e olhares tortos. Procurava por força, por abraços cálidos, por beijos roubados e mãos pequenas para aninhar.
Seus olhos, negros e úmidos, apertavam-se delicadamente quando pensava ouvir leves passos sobre a grama úmida, suaves escaladas ao topo de sua janela. Pensava em levantar outra vez, levando o cobertor aos ombros nus, o rosto cansado de encontro ao vidro frio. Sabia não haver ninguém, sabia não haver passos ritmados por seu quintal escuro, sabia não haver cura, mas algo a fazia esperar que houvesse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário