terça-feira, 9 de agosto de 2011

O despertador não tocou. O café estava frio. O guarda-chuva foi aberto na sala de estar. As roupas pareciam sujas e amarrotadas. O sapato esquerdo afundou em uma poça. As meias finas deslizaram por seus calcanhares magros, enrugando sob seus pés.
Vestira roupas demais, podendo sentir uma das blusas grudando em sua pele úmida de suor. Esquecera a carteira de cigarros sobre o criado mudo, ao lado do copo de gim. Perdera o celular e a cabine telefônica estava ocupada.
Caminhou sem ritmo, perdendo o fôlego. Esticou os braços, procurando equilíbrio. Apoiou-se nos muros, buscando força. Desistiu.
Desistiu de chegar a tempo, de chegar a algum lugar, qualquer lugar. Desistiu de olhar para o ponteiro imóvel de seu relógio de ouro esperando que voltasse a andar. Desistiu de passar a ponta dos dedos no lugar onde costumava ficar seu anel de noivado esperando encontrá-lo ainda lá. Desistiu de esperar por café da manhã na cama, braços em sua silhueta, pés pequenos por entre suas coxas, lábios passeando por sua nuca, por sua pele morna. Desistiu de qualquer coisa, de qualquer traço de sonho.
Na rua não havia mais sombra de penumbra e os óculos de sol já escondiam os rostos, as máscaras. Os guarda-chuvas sumiram de repente, abrindo espaço para sombrinhas e o brilho nojento de bloqueador solar.
Seus joelhos cederam lentamente, suas costas deslizaram pelo muro pichado, levando seu corpo de encontro ao chão ainda molhado. Agarrou-se em um abraço apertado, escondendo seu rosto por trás das mangas de seu casaco. Encolheu-se ainda mais, deixando que seu corpo todo tremesse. E esperou. Esperou que o dia, ao menos dessa vez, recomeçasse.

Um comentário:

  1. Gosto tanto de tuas histórias. Sempre que as leio parece até que faço parte delas. Escreve com sentimento e pude sentir aqui também. Beijos, minha querida. Miss u :*

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