terça-feira, 19 de julho de 2011


Levantou da cama com calma, calçando os chinelos amarelos dispostos ao lado. Apoiou um dos braços magros no colchão duro, e com o outro puxou o suporte de soro. Cambaleou até o banheiro, reclamando, mais uma vez, da ausência de cores, do excesso de luz, do cheiro de doença, da presença constante da morte. Esticou o braço magro, cheio de marcas vermelhas e cicatrizes recentes, girando a enorme maçaneta do banheiro.
Encostou a porta e deixou o suporte no meio do cômodo, parando em frente ao balcão com espelho. Abriu a pequena nécessaire marrom, tirando com pressa os frascos de perfume e maquiagem. Enfiou os dedos no forro rasgado, arrancando com pressa pílulas e comprimidos. Apertou os medicamentos em uma das mãos e com a outra jogou suas coisas de volta.
Fitou o arco-íris que se formava em sua mão. Havia medicamentos de todos os tipos, de todas as cores. Fazia três meses que não via a luz do sol, que não sentia vento em seu rosto, que não respirava outro ar que não fosse aquele. Fazia dois meses que deixara de tomar os remédios que não fossem intravenosos, os tirando da boca assim que a enfermeira desviava o olhar desconfiado. Fazia três meses que mastigava a comida com desgosto, que empurrava o alimento com chá fraco e água, que se contorcia em silêncio pelos lençóis, esperando que aquilo tivesse fim, que alguém a ajudasse, que alguém tirasse de dentro dela aquele peso, aqueles quilos que ela não desejava.
Enfiou os comprimidos no bolso de seu calção largo, e rapidamente esvaziou um frasco de xampu na pia. O enxaguou duas vezes e depois o encheu de água. Tirou do bolso metade das pílulas e rapidamente encheu a boca, levando com a outra mão a embalagem de xampu. Engoliu-os com pressa, sentindo sua garganta arranhar com o atrito. Enfiou as mãos no bolso outra vez e tirou o resto dos comprimidos. Encheu a boca outra vez.
Rapidamente colocou o frasco de xampu em seu devido lugar, fechando a nécessaire e a deixando no balcão. Lavou o rosto e as mãos, secando-se na blusa amarrotada. Puxou outra vez o suporte de soro, voltando vagarosamente para o quarto.
Sentou-se na cama e tirou debaixo dos travesseiros um papel amassado e cheio de borrões de tinta. Dobrou-o com cuidado até tornar-se um pequeno quadrado, guardou-o no bolso do calção e deixou seu corpo cair entre os cobertores.
Levou a mão ao braço, arrancando a agulha e os esparadrapos com pressa. Apertou o travesseiro contra o leve fluxo de sangue, fechou os olhos e esperou.

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