domingo, 16 de janeiro de 2011

Passava seus dias sentada em sua cadeira de veludo cor de vinho de frente para a enorme janela da sala, bebericando hora ou outra sua xícara de café morno e amargo, escutando seus discos arranhados, rabiscando mentalmente os traços que dentro dela faziam sangrar.
Observava o vazio da rua como se olhasse para um espelho direcionado ao seu peito. Tão linda, tão sofrida, tão comovente toda aquela solidão que tomava conta de suas manhãs e tardes. Tão vivas, tão tépidas suas noites à procura de algo que viesse pela calçada, parasse em frente ao seu portão e declarasse, como quem declara assumir o governo de sua vida, que a cadeira ao lado jamais ficará vazia novamente, que a porcelana nova poderá encontrar com outros lábios que não os dela, que os sonhos terão a chance de serem diluídos a realidade monótona - que monótona não mais será - daquela menina miúda que acha a vida muito apagada para ser vivida.

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