sábado, 18 de dezembro de 2010

As louças sujas sobre a pia de inox, os farelos de pão sobre a toalha manchada de geléia, as facas sujas até o cabo, as geladeiras cheias, os restos mornos de café nas xícaras espalhadas pelos cômodos, os raios de sol dançando sobre nossas peles, nossas vozes, suas vozes, suas mandíbulas incessantes ao mastigar, seus lábios úmidos ao bebericarem a taça de vinho tinto, seus rostos vermelhos após discussões.
A televisão no último volume, os latidos, miados, buzinas, freadas, gritos, soluços, gemidos e suspiros vindos da rua. As luzes acesas, as descargas pressionadas, as torneiras abertas, as mangueiras sobre as calçadas, a saliva trocando de boca. E meu corpo procura pelo chão algum espaço vago entre um móvel e outro, alguma fresta que permita a passagem de um novo ar,  a força que a loucura levara embora.
Arrasto os dedos e o corpo pelo assoalho encerado, encontrando entre duas tábuas de madeira torta uma passagem de ônibus, e em baixo do tapete da sala de estar um pouco de poeira e alguns trocados para o café mal passado em alguma mesa de bar.

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