segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

   E assim, imóvel fitando meu tênis imundo, encontro-me pensando que talvez eu ame você. Talvez eu ame teu cheiro de creme pós-barba e café tomado às pressas enquanto veste as calças e procura pelas chaves do carro. Talvez eu ame tua voz macia cantando em tom de sussurro antigas canções de sucesso. Talvez eu ame teu riso forçado, teus olhos inchados, teus cabelos mal cortados. Talvez eu ame quando me olha sem falar nada, prendendo teu olhar castanho claro na escuridão de meus olhos, me deixando sem ar. Talvez eu ame ficar sem ar.
    Talvez eu ame quando você chega de mansinho enquanto escrevo distraída, toma meus cabelos crespos em suas mãos, prendendo-os com um laço de fita azul, beijando-me a nuca úmida e sorrindo. Talvez eu ame suas mãos frias segurando meus braços, suas unhas roídas fazendo cócegas em meus joelhos, seus dentes afiados mordiscando meu queixo. Talvez eu ame quando o mundo desmorona e você me puxa para dançar.
   Talvez eu ame fitar meus pés e imaginar como seria amar você, como seria levantar de meu lugar no ônibus e sentar no espaço vazio ao teu lado.

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