quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Amanheceu, depois de dias em que tudo o que se via era névoa e escuridão. Konstantine, encolhida em meus braços, tocando suas canelas finas e arranhadas no piso gelado de madeira, tinha sua beleza infantil revelada por raios leves de um sol fraco, daqueles que a cada pouco brilha cinza.
A levantei com facilidade, levando-a desacordada até seu quarto. A deitei sobre a cama de lençóis manchados, cabeceira arranhada por unhas, coberta de marcas de sangue e dedos por toda sua extensão. Pensei que talvez devesse limpar a casa, comprar mantimentos, trocar os lençóis e louças. Pensei que deveria limpar as vidraças, ariar as panelas, encontrar um novo piano, destrancar as portas, salvar o jardim, cortar a grama, assar biscoitos, acender a lareira, comprar móveis, concertar as escadas e tábuas dos assoalhos, preparar bebidas, enfeitar a casa, e só então acordar minha amada Konstantine.
Eu deveria preparar seu banho, pentear seus cabelos, fechar os botões de seu vestido, vestir suas meias, calçar seus sapatos, aninhá-la em meus braços e amá-la como sempre amei. Mas tudo, tudo o que consegui fazer foi apertá-la contra meu corpo frio, deitar-me ao seu lado e chorar.
O que seria de nós? O que seria dela? O que seria de mim? Fraca demais para nos ajudar, forte demais para suportar não fazer nada.

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