segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sentada no terceiro degrau da escada, apoiando o rosto no corrimão empoeirado, minha doce menina bebericava seu chá já morno. Da vidraça da sala de estar a enxergava perfeitamente, o olhar vazio, os lábios abertos, os dedos agarrando a porcelana encardida da xícara que um dia foi a melhor da casa. Em um tempo onde ela, Konstantine, também era a melhor da casa.
Vejo como  se fosse hoje, seus dedos percorrendo as teclas do piano de armário, um tanto lustroso, e sua voz macia cantarolando calma. Sorria como nunca mais virá alguém sorrir. Todos os olhos voltavam-se para ela, todos os ouvidos a escutavam. Qualquer um poderia a amar  só de avistá-la, mesmo que de longe, mesmo que por alguns segundos. Era inevitável.
Agora, assim no fim da tarde, dói vê-la tomar o chá sozinha, sem biscoitos de gengibre, sem senhoras de todos os cantos da cidade empurrando seus filhos desengonçados para cima de minha menina, minha boneca. O piano em silêncio, a boca calada, o rosto sujo, as louças manchadas, os móveis imundos, a grama não cortada, a casa vazia e as cortinas cerradas. Konstantine não mais brilhava. Konstantine? Ninguém mais a amava.
Sentada na escada, sem saber ao certo como tudo havia terminado naquele vazio em seu peito, Konstantine levantou, deixando a xícara cair.  Correu os olhos pela sala, e como se um fantasma a puxasse para dançar, Konstantine subiu as escadas em ritmo de tango, parando no último degrau. Caindo de costas. Eu ainda a amava.

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