quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A madrugada tarda, mas chega, fria e úmida, trazendo consigo cor ao meu rosto e um brilho leve, ainda que de natureza perversa, aos meus olhos negros. Em seus braços encontro abrigo, enquanto pela vidraça embaçada por nossas respirações falhas, os clarões da tempestade invadem o cômodo e iluminam nossos corpos que assim, a meia luz, parecem ser um só.
As madeixas grisalhas espalham-se por meu travesseiro rosado, e seus lábios, ásperos e finos, encontram com a pele macia e fresca de meu queixo. Nossos corpos, nossos pensamentos e nossas vozes emaranham-se pelas horas que passam vagarosas. Nossos odores, o seu de nicotina e de juventude perdida, e o meu de café e adolescência recente, se misturam no ar de nossas peles.
Você pára de repente, colocando para trás de minha orelha algumas mechas de cabelo que grudaram em meu rosto suado, e sorri com certa juventude enquanto seus olhos prendem meu olhar, e suas mãos descem lentas por meu ventre, minhas cochas e joelhos, e voltam em um movimento ainda mais demorado, de encontro com minhas costelas. Seus braços enlaçam minha cintura, sua boca umedece mais uma vez meus lábios e então correm, em beijos breves e secos, até minha orelha gélida, sussurrando um adeus calmo.
Abro os olhos e não há ninguém comigo no quarto.

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