domingo, 1 de agosto de 2010

Imagine uma dor que começa em seus dedos, corre por seus braços, percorre seus ombros, pára em sua garganta e passa não só a doer, mas também a queimar. Imagine uma dor que esmaga seu coração fraco, invade a imensidão de sua corrente sanguínea, passeia por toda extensão de seu corpo, e pára exatamente em seu ponto fraco. Imagine martelos em seus joelhos, facas em seus pulsos, flechas em seus tornozelos, tiros em seu peito, cacos de vidro em seus pés, farpas debaixo de suas unhas, queimaduras em suas costas, agulhas em suas pálpebras, arranhões em suas bochechas, fogo em suas roupas. Imagine isso e mais um pouco, doendo ao mesmo tempo.
Imagine que todos foram embora, que todos cansaram de você. Imagine que todos desistiram de ti, inclusive você. Imagine que todos deixaram cartas de desprezo, com palavras cuspidas, com ofensas e rancores para jogar em sua face. Imagine gosto de sangue em sua língua, café queimando seus lábios, cigarros sujando seus pulmões, conhaque em suas feridas, e algo que você desconhece doendo mais ainda dentro de ti.
Dói, como se estivessem te estuprando. Dói, como se arrancassem sua pele fora. Dói, e você não pode fugir. Todas suas dores físicas podem ser curadas, a dor que vai de seu peito ao seu ponto fraco pode ser curada, os cortes, as bofetadas, as queimaduras, os arranhões, podem ser curados com precisão. As agulhas, os cacos de vidro, as farpas, as flechas, as balas, podem ser retirados, e nem deixar memórias de que um dia estiveram presos a ti. Mas a dor, a dor que você desconhecesse, nada cura.
Dói, como se você ainda estivesse ferido por fora. Dói, como se você sentisse sede de algo que não existe. E as mágoas podem ser esquecidas, todos que foram podem voltar, todos que rancores guardaram podem perdoar, todos que te quebraram podem tentar te consertar. Mas nada conserta, nada esconde, nada melhora, nada faz passar, a dor que te dói (Por que diabos dói?). Essa dor que não tem início em ponto algum, que não tem fim, que não tem meio. Uma dor sem razão, sem explicação, tampouco solução. Uma dor que não passa, que não se disfarça, que não existe prevenção.

Um comentário:

  1. Meu deixou boqueaberta, como já lhe disse, gosto do seu lado sombrio. Muito bom mesmo. Sem mais!

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