domingo, 8 de agosto de 2010

Ajeitou o magro corpo na cadeira. Levantou os olhos em direção aos dele, sorriu torto enquanto levava um cigarro aos lábios. Ouviu as falas com desprezo, dando mais atenção ao isqueiro que procurava pelos bolsos de sua jaqueta de couro.
- Você entende o que eu quero dizer? Eu só... Cansei disso tudo. - Ele passou as mãos pelo cabelo negro, jogando para trás os fios que caiam pela testa pálida. - Você nem sequer tenta mudar, e eu nunca sei o que devo esperar de você. Um dia você me ama, no outro nem sequer se importa. - O tom de voz, antes calmo, agora soava eufórico.
Ela jogou o corpo para trás, apoiando as costas no encosto de madeira. Sorriu, revelando no olhar um brilho forte. Riu, levando aos lábios o cigarro agora aceso.
- Você não vai dizer nada? - Os olhos azuis procuravam os olhos negros dela, e só encontravam o vazio daquele brilho incessante. - Você não acha que eu mereço...
Bateu a ponta do cigarro no cinzeiro da mesa de canto, ainda sorrindo.
- Eu só... - Riu baixo, revelando rugas de riso preso em seu rosto rosado. - Só achei que você nunca fosse perceber isso. - Riu, agora alto. - Você demorou tanto assim pra perceber o que eu tentei avisar desde o início?
Os olhos dele deixaram de procurar os dela, e a decepção tomou conta de seu rosto. Sorriu, não como quem tenta disfarçar a dor, mas como quem sorri aceitando que dói.
- É, você me avisou.
Ela sorriu, de novo, como todas as vezes.
- Eu avisei. Você quis assim, a culpa é sua. Eu não sou perfeita, nem tento ser boa, nem tento me encaixar no suficiente. - Tragou. - Eu só não me importo, pra mim tanto faz, te ter, não te ter, dói do mesmo jeito. Se quiser ir embora, vá. Se quiser ficar, fique. Mas fique calado, sua voz me dá sono.
- Quando foi que você se tornou um monstro? - Abaixou os olhos, deixando que lágrimas finas caíssem sobre a superfície clara de seu rosto.
- Todos são monstros, não me culpe por isso. - Observou as chamas aproximando-se do filtro, apertou a ponta do cigarro contra a madeira da mesa. Levou outro aos lábios e acendeu. - Eu só... Não vou fingir me importar pra que você fique, talvez amanhã ou depois eu me importe, talvez não. Quem sabe? Dizem que o mundo dá voltas, daqui uns dias posso estar sentada onde você está, com as mesmas lágrimas nos olhos, com a mesma decepção estampada em meu rosto. Talvez não.
Ele levantou. Parando em frente ao corpo dela, fitando-a de cima a baixo.
- É uma pena.
Ela levantou o olhar, contraindo os lábios e revelando certo rubor nas bochechas.
- Não, não é. Vá procurar algo que valha a pena, vá se apaixonar de verdade, e não esperar de alguém como eu, um sentimento que não sou capaz de sentir.
Ele virou as costas, andando em passos lentos, esperando que ela o parasse, esperando que ela fizesse algum barulho, esperando que ela abrisse os lábios pra dizer qualquer coisa.
Quando chegou próximo à porta foi tomado por uma dúvida, uma curiosidade assombrosa. Virou o rosto.
- Você ao menos me amou?
- Semana passada, talvez. Nunca se sabe. - Tragou.

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