terça-feira, 6 de julho de 2010

- Sessenta e oito, sessenta e nove, setenta... - parou exatamente no meio da faixa de pedestres, apreciando o arredondamento dos números e a metade exata da rua. - Setenta e um, setenta e dois, setenta e três - E continuou seu trajeto para lugar algum, sendo guiada por um mapa que encontrou no fundo de uma gaveta.
Contava os passos de cem em cem, evitando assim perder a conta. Duas mil vezes cem. E nenhuma memória vinha buscá-la, nenhuma saudade a perturbava, nenhum romance a assombrava, seus fantasmas nunca existiram, ela nunca existiu.
16 anos, tatuagens das quais não lembrava a razão de ter feito, nomes na capa de cadernos, nomes que ela não conhecia, nomes que não passavam de caligrafia infantil e grafite gasto. Cicatrizes no pulso, arranhões nos joelhos, calos e histórias que ela desconhecia. Fotos, uma garota sorridente no meio de uma multidão, todos soam como um só, todos são uma unidade, nada mais do que todos. Não existem identidades, lembranças, falta. Ela esqueceu, ou então nunca conheceu. Ela simplesmente não sente mais nada. Ou então nunca sentiu.

2 comentários:

  1. Claro que sentiu, claro que existiu. Ela esqueceu ou quis esquecer. Se forçou ou foi forçada.

    Nada bom, nada bom. Que esses passos terminem em algo importante. E se não for o caso, volte e recomece, ou tente diferente. Há respostas e melhoras em algum lugar. Já procurou debaixo da cama? Ou na grama do vizinho?

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  2. Muito bom, o modo em que escreveu-o foi formidável! *-*

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