sábado, 24 de julho de 2010

As vozes vindas do pequeno consultório ecoavam pela rua, misturando-se aos murmúrios das senhoras no mercado de peixe e dos senhores nos bares e nas calçadas. O som dos charutos sendo acesos, dos lábios sendo contraídos em sorrisos ainda jovens, e das crianças agarrando as saias de suas mães, implorando por brinquedos de madeira expostos em vitrines brilhantes, misturavam-se ao espetáculo de sons sujos.
O som do bonde se aproximando, dos passageiros seguindo seus rumos, das fofocas sendo contadas no salão da esquina, dos assassinatos na escuridão dos becos, das prostitutas remexendo suas armações, entupiam os ouvidos inocentes da pequena Coroline.
Os gritos dos estupros, dos loucos no hospício do fim da rua, das velhas histéricas, do coral da igreja, enlouqueciam a mente estreita da pequena garotinha de sapatilhas vermelhas.
As gotas de chuva, os passos apressados, os violinos e pianos, as caixas registradoras abrindo e fechando. As moedas caindo ao chão, as bolsas sendo abertas, os latidos e miados, as folhas sendo arrancadas dos cadernos, o giz branco riscando o quadro negro. Os risos sendo segurados, as lágrimas sendo presas, os lenços jogados ao chão, e as buzinas dos navios no porto.
O oceano agitado, os drinks sendo servidos, as empregadas molestadas. Tudo ecoava nela, tudo doía para ela, tudo torturava a mente dela. E ela enlouqueceu, juntando-se ao resto da cidade, diluindo-se à sujeira urbana de Paris.

{primeiro texto escrito na máquina de escrever}

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