quinta-feira, 17 de junho de 2010

Rompida.

Diminuo o passo. Evitando que me vejam, evitando que me esperem. Sinto-me invadida, como se uma parte de mim tivesse sido rompida, e agora a passagem para as outras partes tornou-se irrestrita. Gostaria de costurar essa passagem, evitando mais uma vez que perfurem minha intimidade. Não quero que me conheçam, não quero que me entendam, não quero e ao mesmo tempo quero muito.
A falta de contanto humano costuma me ferir, vez ou outra. Mas não forma feridas permanentes, são mais como arranhões nos braços, em poucos dias se curam. Enquanto a intimidade, a invasão de meu ser, a necessidade de satisfação, de explicação, de interesse, de fazer-me interessante corta-me feridas que deixam marcas por todo corpo. Ninguém as vê, somente eu. Vejo cada cicatriz em cada parte de meu braço, pernas, tronco, pescoço e tudo o mais. Identifico as causas, os anos e as razões.
Não quero minha rotina sendo quebrada, não quero abraços doces pela manhã, não quero beijos e mãos dadas. Não quero telefonemas pela tarde, cinema aos sábados, sorvete aos domingos. Não quero companhia todo tempo, não quero perder minha solidão. Não quero ter que fazer tudo que eu falo ter sentido, não quero manter ninguém interessado. Não quero perder meu eu, meu corpo, meus braços, minhas feridas. Não quero ninguém invandindo esse espaço.
Espero conseguir esconder a falha em minha barreira, antes que seja tarde.

Um comentário:

  1. Nossa, fiquei boqueaberta. Que texto bom! Parabéns, parece que foi escrito por mim! Muito bom mesmo, parabéns! *-*

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