Nostalgia mal escrita.

O pequeno e fino corpinho lutava contra a pouca altura, esticando os pezinhos e braçinhos ao máximo, procurando alcançar a mamadeira com leite sobre o balcão. Desistiu, levando a mãozinha esquerda até a cintura, e o polegar direito até a boca. Estava irritada.
Correu os olhos pela cozinha, andando apressadamente até os quartos. Arrastou um pequeno banquinho, daqueles comprados em beira de estrada que dizem "Sou da mamãe" no assento. O posicionou na frente do balcão, alcançando então a mamadeira. Segurou-a na mão esquerda, correndo e arrastando a cadeira pela casa toda.
- Já vai começar. - Disse, jogando o pequeno corpinho nas almofadas de um sofá grande demais para ela. - Não quero perder nada, nadinha. - Esperou alguns minutos, impaciente. Já não aguentava mais esperar com a mamadeira nas mãos. Estava com fome, estava ansiosa, estava com pressa.
Treze minutos e finalmente começou.
"I'm gonna make a change
For once in my life
It's gonna feel real good
Gonna make a difference
Gonna make it right." A voz perfeita, o corpo perfeito, a dança perfeita a hipnotizavam como nunca antes. Prendeu os olhos na televisão, levando a mamadeira aos lábios em um impulso. Sorriu, riu, cantou.
Jogou-se ao chão, aproximando-se cada vez mais da tela. Riu da proximidade, riu como se estivessem juntos. Seu herói, sua estrela cadente, seu eterno Michael.
Chorou com ele, lutou com ele, apertou sua mão na dele quando preciso. Sentiu medo com ele, embora soubesse que ficaria tudo bem. Brincou com ele, correu com ele, dançou com ele, venceu com ele.
Com o fim do filme choramingou, reclamando do tempo que teria de esperar para vê-lo de novo, embora em seus sonhos sempre o encontrasse. Seu Michael, seu melhor amigo. Não era preciso muito esforço para senti-lo, não com sua imaginação fértil e seu amor maior que si mesma. Seu Michael Jackson, que dentro dela viverá para sempre.