Again and again.

Meu rádio está tocando o mesmo disco faz horas. Volto as canções, volto os sentimentos, e voltam as lágrimas. Como um filme começando e terminando, começando e terminando, em uma frequência infinita.
Pergunto-me qual é o problema. Estou sempre em busca de algum drama, alguma dor que infle meu peito e me faça sangrar. Eu deveria parar com essa busca incessante, que de uns anos para cá vem sendo o sentido de tudo. Mais dor, mais cafeína, mais cigarros, mais lágrimas, mais solidão, mais medo, mais frio, mais raiva, mais confusão. Estou perdida dentro de mim.
Não sei se sou hoje o que realmente sou o se o que eu era antes é o que eu sou. Não sei se sou tudo, se sou nada. Não sei se estou sendo falsa, se estou inventando. Não sei se isso que sinto é mais um capítulo de meu teatro barato. Pergunto se estou sendo eu mesma ou a personagem que criei. Não sei, ninguém sabe. Alguém sabe?
Traços retos por todo braço, cortes uniformes, fundos e objetivos. Objetivam dar um fim a falta de sentido. A falta de sentido em doer. O que me dói? Por que dói?
Aumento o volume do rádio. As músicas costumavam fazer tudo melhorar, acabar, ter sentido. Aquelas vozes faziam os problemas menores, faziam as notas musicais tocarem meu pequeno corpo, me aninhando em um abraço de conforto.
E as perguntas se diluem, como se fossem líquidos pingando em um mesmo copo. O copo sou eu. Tudo se dilui em mim, mas nada se dilui a mim.
A passagem há pouco tempo rompida foi trancada novamente. Sinto que deixei alguém preso entre o exterior e o interior de minha alma. Não sei se quero empurrá-lo para fora ou puxá-lo para dentro. Meu impulso me obriga a afastá-lo, me obriga a encontrar um novo escudo, dessa vez dentro de mim. A maldita armadura. Seria ela parte de mim? Seria o figurino de minha personagem? Se sim, quem sou? O que faz parte de mim? Diga-me você. Contem-me sobre mim, porque eu não me conheço. Eu me perdi e não me encontro mais. Nem sei se quero me encontrar.