sexta-feira, 14 de maio de 2010

Eu gosto de vozes roucas. Gosto dos murmúrios de fundo em um restaurante barato. Gosto de chiados. Gosto do som da chuva.
Gosto do som de lábios movendo-se rapidamente ao acompanhar uma leitura ao fundo de uma livraria. Gosto do som das páginas virando, das pontas dos dedos buscando saliva para virarem as folhas.
Gosto do gosto de desgosto que ganham meus lábios ao pensar em você. Um gosto amargo, comparável ao de um cigarro barato acompanhado de um café morno e mal passado.
Gosto do ranger dos pisos, do som de andar por entre a grama molhada. Gosto do tic-tac de relógios, do bater de portas. Gosto dos cristais quebrando, da lenha queimando, do coração se partindo. Gosto dos latidos e miados, das freadas e buzinadas, da fumaça e da desgraça de uma vida meio urbana.
Gosto da falta de rumo, do caminhar só por caminhar. Do me perder por vontade própria, do procurar a perdição como solução. Gosto da falta de espaço, do excesso de espaço, e de não ter espaço algum.

2 comentários:

  1. são gostos excêntricos dentro da normalidade cotidiana de uma boa parte das pessoas.
    Soa um pouco paradoxo, mas é um ótimo texto.
    Mostra a parte da humanidade que eu mais gosto, ainda mais pela parte da paixão pelos livros.

    que o café lhe traga mais inspirações.

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