sábado, 11 de setembro de 2010

Oh, doutor, por favor, essa sala de espera, esses cafés fracos demais em comparação com o amargo de meus lábios, esses cigarros que fumo escondido pelos corredores brancos, esses cochilos de cinco em cinco minutos, têm sido tudo o que tenho tido, não leve isso embora, por favor.
Não me olhe assim, não se mova em minha direção, não abra sua boca, não deixe que a notícia escape por entre seus dentes, não me informe do que não quero ser informada. Despeje toda água com açúcar que pediu que preparassem para me consolar porque eu não vou escutar o que você veio contar, eu não vou escutar o que você tem a dizer.
Oh, por favor, deixe-me nesta sala de espera a vida toda, não me mande embora, deixe-me adormecer nessas poltronas azuis cheias de machas, deixe-me acreditar que ela dorme calma em um desses quartos pálidos, que sonha comigo, que está esperando por mim tanto quanto estou esperando por ela. Deixe-me acreditar que ela um dia vai abrir seus lindos olhos verdes, que vai sorrir e esticar os braços em busca de minhas mãos. Deixe-me acreditar que um dia desses, meus lábios vão encontrar os lábios dela, e meus dedos vão desfilar pela pele rosada dela enquanto ela canta rouca minha canção de dormir.
Deixe-me sentada aqui só mais alguns minutos então, alguns breves minutos, só me deixe passar mais um tempo dentro dessa espera, deixe-me esperar por ela apenas mais algumas horas, deixe-me acreditar que ainda não acabou. Depois, depois eu não sei. Só não me conte agora.

Um comentário:

  1. wow, que lindo. Tão lindo, tão mágico. Tão real. Ain, parabéns, adoro te ver progredindo...

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